Desafio de candidatos é conquistar os eleitores que admitem mudar o voto

A estabilidade do cenário eleitoral revelada pelo Datafolha reflete o alto grau de cristalização do voto neste momento. A grande maioria dos que declaram o voto se diz totalmente decidida sobre o candidato que escolheu para suceder Lula. 

Entre os eleitores de Dilma Rousseff (PT), 91% se mostram convictos. Entre os que pretendem votar em José Serra, a taxa é de 89%. O dado é importante, explica a manutenção do quadro, mas pode não ser definitivo. Como acontece com qualquer variável inerente à opinião pública, ele sofre a influência de fatores conjunturais e pode apresentar mudanças à medida que a eleição se aproxima. 

Além disso, os 9% que ainda cogitam a possibilidade de mudar o voto poderiam, em última análise, alterar a história da eleição. Afinal, a diferença entre os dois candidatos hoje é de apenas seis pontos percentuais. 

Mas a pergunta que tal tendência desperta refere-se ao potencial de crescimento que cada candidatura apresenta atualmente. 

Para a análise, é essencial focar não só a determinação dos eleitores conquistados até aqui, mas também, e principalmente, o segmento daqueles que não escolhem um ou outro.

É importante entender como se dividem os não eleitores de Dilma e Serra, isto é, quais as chances da petista e do tucano entre os que hoje não votam neles. 

Hoje os eleitores que não optam por Dilma são 53%. Entre eles, projetando-se para o eleitorado total, 35% dizem que não votariam em Dilma de jeito nenhum. Sobra então para a petista um espaço de crescimento de 17 pontos percentuais. Dentre estes, porém, apenas o equivalente a um ponto percentual diz que com certeza poderia votar em Dilma no segundo turno. O restante cogita a possibilidade.

Em relação a Serra, a situação é parecida. Dos 59% que não votam no tucano, a maioria o rejeita totalmente. Debita-se então de sua conta 39% do total de eleitores. Serra ficaria com um saldo de 20 pontos para serem conquistados. Mas demonstram maior tendência de mudarem o voto para o ex-governador só 2% dos eleitores. 

A conclusão é que os estratos mais suscetíveis à migração hoje são insuficientes para provocar grandes mudanças no cenário eleitoral. 

Se alterações ocorrerem, será porque algum fato conseguiu despertar o segmento dos não eleitores que levemente cogitam a possibilidade de mudar o voto. 

O debate centrado em aborto e religião não se mostrou, até aqui, suficiente para atingir esse grupo. 

Jornal Folha de São Paulo.