Enigma: Engolindo os sapos agora... Para comer as pererecas depois.


Rapaz, pior do que engolir sapos deve ser mascar barata! Mas então porque nunca ninguém fala em “mascar barata”? Ou quem sabe “lamber gambá” em vez de “lamber sabão”?

Eu não sei, o fato é que no trabalho o que se ouve e se fala é em “engolir sapos”.


Quem não já “engoliu alguns sapos” na vida durante a trajetória profissional, hein?

Certamente devem existir gargantas e estômagos virgens nessa área, creio. Em compensação, devem existir os engolidores diários e contumazes do batráquio, já tão condicionados que não abrem mão da sua dose diária... Haja estômago! 


Dizem os entendidos em "sapologia", que a origem da associação do sapo com algo nada aceitável vem das Sagradas Escrituras, quem diria, hein? 

Num determinado capítulo do livro do Êxodo, um rebelde Faraó recebeu como castigo de Deus uma série de pragas, uma das quais se constituía de uma invasão de milhares de rãs ou de sapos. Se não são a mesma coisa, são com certeza da mesma família. 

Segundo descreve a Bíblia, o Faraó encontraria o bicho saltitante em todos os lugares possíveis e imagináveis do seu palácio, inclusive no quarto de dormir, cozinha e banheiro. Dá pra imaginar? 

Portanto, desde os tempos antigos, fez-se do sapo um bicho nojento.

No trabalho, “engolir um sapo” é não ter o direito, o espaço, a liberdade ou a coragem de responder à altura um insulto, uma humilhação, uma acusação, uma ironia.

Claro que essa impotência tem uma razão de ser óbvia: os “sapos” vem sempre do superior imediato, ou seja: ninguém “engole sapo” enviado por um colega do mesmo peso hierárquico e muito menos de peso menor. 


Podemos então facilmente concluir que os “sapos”, tem uma preferência toda especial em fazer do seu habitat natural as organizações que adotam um modelo de gestão autoritário e insensível. Que não permite o diálogo, a réplica, o esclarecimento, muito menos a argumentação.

Inclusive, na prática dessa “arte”, as coisas hoje estão cada vez mais fáceis porque, graças ao avanço tecnológico, sobretudo da Informática, atualmente já se pode mandar (ou receber) “sapos” por e-mail ! Chique, não? 

Agora, falando sério. Nenhuma empresa que se preza, nenhum dirigente que respeita e valoriza seus colaboradores, nenhum gestor que está acompanhando as tendências das novas relações humanas, permite a criação e o "arremesso de sapos"' em sua organização ou em seu departamento. 

As chamadas equipes de alta performance caracterizam-se justamente pela liberdade de expressão, pela transparência, pelo diálogo claro e objetivo, sem insinuações e muito menos agressões verbais. 

Ao invés de “lançamentos de sapos”, as equipes integradas utilizam instrumentos mais saudáveis e profissionais, como as discussões técnicas, defesa e explicação lúcida dos pontos de vista contrários, das divergências e das opiniões diferentes. 

Proponho que façamos uma campanha em defesa dos "sapos", para que eles sejam deixados em paz nos ambientes de trabalho. Ninguém precisa ser ecologista para saber que eles tem lá sua utilidade, mas claro que fora do trabalho, no seu “habitat” natural.  

Para encerrar, apenas o registro de uma curiosidade que há tempos vem me intrigando: de onde será que os “arremessadores de sapos” diários conseguem tanto estoque?