Em nota, Presidente do Tribunal de Justiça diz que Rosalba foi "desrespeitosa e inoportuna".


O Presidente do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte (TJ-RN), Aderson Silvino, reagiu com veemência à declaração dada pela Governadora, Rosalba Ciarlini (DEM), à imprensa na qual ela afirma que o Ministério Público e o TJ se comportam como "filhos sem mesada".

Em nota, divulgada nesta quinta-feira (1°), o desembargador considerou o comentário da governante como "desrespeitoso, inoportuno e inconstitucional" ressaltando o caráter independente do judiciário e afirmando que o tribunal sempre esteve aberto ao diálogo e que a obrigação de repasses relativos ao duodécimo, vem sendo ignorada pelo Executivo.

Ao final, o comunicado afirma que as dificuldades do Executivo não podem servir como justificativas para a paralisação do Judiciário.

Veja abaixo a íntegra da nota:

A declaração da governadora Rosalba Ciarlini, publicada hoje em jornais potiguares, na qual afirma que o Tribunal de Justiça e o Ministério Público agem "como filhos sem mesada", é desrespeitosa, inoportuna e inconstitucional. É inadmissível que o Executivo se projete como tutor, ou se compare a uma mãe que deve "mesada" aos filhos, relegando aos demais poderes uma postura subserviente. O Poder Judiciário é, conforme a Constituição Federal, autônomo, independente e livre da tutela de qualquer governante.

O Tribunal de Justiça também considera uma alegoria inadequada afirmar que "acontece com o orçamento como se passa em nossas casas". Não há apropriamento privado. Não há solicitação de repasse inapropriado ou indevido. Os repasses relativos ao duodécimo são constitucionais, definidos pelo Artigo 168 da Constituição Federal. No entanto, esta obrigação constitucional vem sendo, reiteradas vezes, ignorada pelo Poder Executivo do RN.

É importante esclarecer que desde o início das discussões em torno das dificuldades orçamentárias expostas pelo Governo do Estado, o Tribunal de Justiça jamais se negou ao diálogo. No entanto, o corte feito pelo decreto governamental atinge significativamente o custeio e os investimentos do TJ-RN. Para efeito de comparação, o Supremo Tribunal Federal (STF), que participou do esforço da União no contingenciamento de verbas para a garantia do superávit primário, teve 0,5% de seu orçamento cortado pelo Governo Federal, ou seja, R$ 2,5 milhões, enquanto o TJ potiguar sofreu um corte de R$ 80 milhões.

A medida do Governo do RN está fora do limite aceitável para assegurar a prestação jurisdicional à população e os investimentos em curso, a exemplo da implantação do Processo Judicial Eletrônico (Pje) e dos mutirões como o Expresso Judiciário e o Mutirão da Improbidade, que vêm acelerando julgamentos em todo o Estado.

O TJ-RN entende as dificuldades financeiras enfrentadas pelo Poder Executivo. Porém, não pode admitir que elas sejam motivadoras da paralisação dos serviços da Justiça, essenciais à garantia dos direitos da população norte-rio-grandense.

Aderson Silvino
Presidente do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte