Justiça decide: Servidor do RN fica sem o 13º salário para que o Estado celebre o 'sucesso fiscal' da atual gestão.


Os servidores estaduais da Administração Direta do Rio Grande do Norte receberam uma notícia desfavorável nesta sexta-feira (26). A desembargadora Berenice Capuxú acolheu um recurso do Governo do Estado e suspendeu a decisão que obrigava o pagamento do 13º salário ainda dentro do ano de 2025. Com a nova determinação, prevalece o cronograma do Executivo, que prevê a quitação da gratificação natalina apenas até o dia 10 de janeiro de 2026.

A reviravolta jurídica aconteceu após a Procuradoria-Geral do Estado (PGE) recorrer da decisão anterior, alegando que o pagamento imediato causaria um colapso nas finanças públicas e comprometeria serviços essenciais. Ao acatar o pedido, a magistrada argumentou que, embora o direito dos trabalhadores seja inegável, a "capacidade financeira do Estado" precisa ser respeitada para evitar uma grave lesão à ordem econômica. A decisão segue o mesmo entendimento aplicado recentemente a outras categorias, como a da saúde.

O desfecho, no entanto, levanta um forte contraponto político e social. Sindicatos como o Sinsp e o Sindsaúde criticam duramente a medida, lembrando que o 13º salário não é um empréstimo que o trabalhador faz ao governo, mas uma remuneração garantida por lei após um ano de serviço. 

O argumento de "crise financeira" e "desequilíbrio fiscal" soa contraditório para parte da sociedade e dos servidores, considerando que a atual gestão completa sete anos afirmando ter saneado as contas estaduais e organizado a folha de pagamento.

Juridicamente, o que se vê é o uso do princípio da "supremacia do interesse público" sobre o direito individual. Na prática, porém, o que fica para o servidor é a incerteza financeira e o ônus de financiar, com o próprio salário, as dificuldades de caixa de uma administração que alega equilíbrio, mas não consegue encerrar o exercício quitando suas obrigações básicas. 

Enquanto o governo ganha fôlego jurídico para ajustar o fluxo de caixa, o funcionalismo inicia o ano novo com o orçamento comprometido e aguardando o que já deveria estar na conta.