Pau dos Ferros: Prefeito Fabrício Torquato terá nove meses para tentar convencer população que merece continuar no cargo.


Sem apelar às tergiversações escapistas ou argumentos tendenciosos, vamos aos fatos: o atual prefeito de Pau dos Ferros, Fabrício Torquato, não tinha qualquer expressividade na política pau-ferrense, a não ser pelo fato de ostentar o epíteto de filho da ex-vice-prefeita Maria Rêgo. No ano de 2008, após uma "briga de foice" com o grupo político liderado pelo seu primo deputado Gustavo Fernandes, ele ingressou oficialmente no cenário local ao ser indicado como candidato a vice-prefeito na chapa encabeçada por Leonardo Rêgo, que na época disputava a reeleição e conquistou o segundo mandato, emergindo, consequentemente, o seu companheiro de ocasião para um degrau mais elevado.

No ano de 2012, mesmo com a objeção de alguns aliados mais chegados, o então prefeito Leonardo Rêgo desconsiderou os alertas relacionados à possibilidade de traições futuras e resolveu honrar o apoio recebido quatro anos antes bancando, por conta própria, a candidatura de Fabrício Torquato objetivando, sobretudo, garantir a continuidade de seu estilo administrativo desenvolvimentista, implantado na principal cidade do Alto Oeste a partir do ano de 2005. 

Pois bem, depois de muito suor e exposição a uma série de riscos e aborrecimentos, Leonardo conseguiu magistralmente transmitir à população a necessidade de fazer de Fabrício o seu sucessor, algo propagado na época por muitos comunicadores, que inclusive hoje se contradizem, como um feito obtido graças, unicamente, ao salto de desenvolvimento proporcionado pela gestão eficiente do ex-prefeito. Aparentemente, o casamento político parecia perfeito, pois, o sucessor eleito não emitia qualquer sinal de que fosse ser desleal com quem fez de tudo para colocá-lo no cargo que ocupa atualmente.


Assim que foi empossado, Fabrício Torquato apresentou uma equipe administrativa relativamente técnica, inclusive, optando por conservar nomes da extrema confiança de seu antecessor (Alexandre Aquino e Emília Suzana), mas, sinalizou um comportamento suspeito ao entregar o comando das finanças do município a um desafeto político de Leonardo Rêgo e, simultaneamente, arranjar um entrevero com a vice-prefeita Zélia Leite, supostamente, em virtude do descumprimento de uma promessa de entregar-lhe a pasta da Saúde. Todavia, foram colocados "panos quentes" na situação e a querela foi, momentaneamente, abafada à imprensa.

Só que pouco tempo depois, o Prefeito Fabrício resolveu extirpar Alexandre Aquino e Emília Suzana do Gabinete Civil e da Secretaria de Assistência Social, respectivamente, sob o argumento da incomodação pessoal. Novamente, foi gerado um certo clima de instabilidade política que, rapidamente, foi controlado com a intervenção do deputado Getúlio Rêgo, pai do ex-prefeito Leonardo.

Em meio às crises de relacionamento com os seus aliados, Fabrício Torquato reconheceu que assumiu o município numa situação equilibrada e apta para celebrar convênios futuros, tendo por diversas vezes exaltado a postura correta de Leonardo Rêgo enquanto gestor. Entretanto, apesar do discurso alvissareiro, quando partiu para a prática o atual gestor não conseguiu dar andamento a diversas obras que não puderam ser concluídas e que ficaram apalavradas para a conclusão, haja vista os recursos deixados em caixa pelo antecessor e a obrigatoriedade constitucional de continuidade administrativa. Rapidamente, notou-se uma diminuição acentuada da popularidade do Chefe do Executivo, contudo, nada que ameaçasse a robustez de um grupo político vencedor, mas que, posteriormente, enfrentaria a primeira prova de fogo: as eleições estaduais.


Com uma administração apagada ante a ausência de ações administrativas impactantes, Fabrício Torquato chegou ao pleito de 2014 carregando o estigma de mero aliado de Leonardo Rêgo que, mesmo agindo discretamente na condução do processo de fortalecimento da candidatura à reeleição do deputado Getúlio Rêgo, era o apoio mais cobiçado pelos candidatos ao Governo do Estado, no caso, Henrique Alves (PMDB) e Robinson Faria (PSD). 

No entanto, no primeiro turno, Leonardo e Fabrício resolveram caminhar juntos com Henrique Alves, apesar das sinalizações favoráveis do prefeito pela postulação de Robinson Faria, algo que foi alimentado em demasia depois que os populares passaram a vibrar com mais ênfase diante da presença do ex-prefeito durante as movimentações políticas, acontecimento que acabou gerando ciúmes, futricas e muita insegurança quanto a continuidade da aliança política.

De repente, o inesperado acontece: Robinson Faria, beneficiado pela altíssima votação do candidato Robério Paulino, consegue chegar ao segundo turno com Henrique Alves e, rapidamente, consegue o status de favorito gerando uma onda de adesões estado afora. Em Pau dos Ferros, o clima já não era dos melhores entre Fabrício e Leonardo e a cidade tornou-se destaque no cenário político potiguar com o anúncio de que o Chefe do Executivo partiria para o rompimento, optando por aventurar o protagonismo com a iminente vitória de Robinson e o sonho da tão almejada popularidade além da sombra do antecessor. Foi uma ruptura estilo: Criatura versus Criador. 

Urnas abertas, Robinson vence no estado com folga. Em Pau dos Ferros, a maioria foi acachapante. Pronto, tudo havia saído exatamente como o planejado para o Prefeito Fabrício que, imediatamente, passou a propagar que, com as novas parcerias políticas firmadas, todo o marasmo administrativo seria deixado para trás, novos tempos estavam chegando e, enfim, a população se orgulharia de o ter elegido para o cargo máximo da municipalidade. Aparentemente, se desenhava uma nova conjuntura política no município. O apogeu do atual gestor parecia uma questão de tempo, mesmo fim pensado quanto a um possível declínio do ex-prefeito. Só que... Não (#SQN).


Mesmo com o excesso de poses fotográficas e matérias sobre reuniões que não decidiam coisa alguma e o cumprimento de agendas que não produziam resultados práticos, Pau dos Ferros atravessou em 2015 uma das piores fases de sua história na esfera administrativa. 

Como se não bastasse o agravamento da crise hídrica em virtude da estiagem, a população teve que passar o ano inteiro ouvindo lamentações de um prefeito que priorizou o discurso do caos financeiro, apesar de optar por manter a prefeitura abarrotada com cargos comissionados, que tentou justificar a sua inércia administrativa como consequência do pagamento imediato de supostas dívidas deixadas pelo governo anterior, que não concluiu obras importantes que foram iniciadas até mesmo durante sua gestão, que deixou a população bastante irritada quanto à falta de diligência na realização da limpeza pública e o oferecimento de um atendimento de saúde adequado, e que por desrespeitar o princípio da transparência foi punido judicialmente por se negar a prestar informações aos vereadores, agentes fiscalizadores do patrimônio público.

Somente para os blogueiros e radialistas situacionistas (puxa-sacos) já conhecidos da população, além de secretários e servidores comissionados, Pau dos Ferros é uma "Suíça Brasileira". Estes sim tem motivos suficientes para aprovarem a atual administração, afinal, são beneficiados. Mas, a população desassistida e entregue à própria sorte tem pensado diferente. Não é a toa que, segundo números internos que até mesmo os governistas conhecem, o atual prefeito Fabrício Torquato não consegue obter um índice de aprovação sequer na casa dos dois dígitos, um desempenho sofrível que inviabilizaria qualquer projeto político se não fosse a possibilidade iminente de uma aliança com antigos adversários, e que mesmo assim ainda o deixaria numa margem bem aquém do primeiro colocado.

É diante deste cenário extremamente negativo que Fabrício Torquato terá que se desdobrar para, pelo menos, se viabilizar como candidato à reeleição. Depois, caso mude sua forma de governar, ainda terá que convencer os pau-ferrenses que é mais capacitado que o seu principal adversário, Leonardo Rêgo, para se manter no cargo. Uma tarefa que não deve ser taxada como impossível, todavia, ante o seu retrospecto apático dos últimos três anos, as dificuldades serão incomensuráveis.

Não basta ser otimista, faz-se necessário realizar.